segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Drummond

"As coisas que amamos

as pessoas que amamos

são eternas até certo ponto.

Duram o infinito variável

no limite de nosso poder

de respirar a eternidade

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,

dar-lhes moldura de granito.

De outra maneira se tornam absoluta

numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,

e todos nos cansamos, por um outro itinerário,

de aspirar a resina do eterno.

Já não pretendemos que sejam imperecíveis.

Restituímos cada ser e coisa à condição precária

rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho eterno fica esse gozo acre

na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar"



Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário: